Até breve, São Rafael

Por Águida Cunha
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Alunos experimentam técnica fotográfica na Escola Municipal Francisco de Assis de Souza. Foto: Natália Noro.

Uma semana para transformar a realidade de uma população local. Missão impossível se for parar para pensar, mas quando se vive o Trilhas Potiguares dá para perceber que uma semana faz muita diferença. Os sorrisos, as histórias, os elos formados com a população local mostram o quanto o Trilhas transforma, não só a realidade de um lugar, mas a vida dos trilheiros.

Não dá para medir ainda se a mudança provocada pelo Trilhas Potiguares no município de São Rafael foi efetiva, afinal a equipe se despediu ontem da cidade. Mas as transformações obtidas em tão pouco tempo inspiram a fazer ainda mais. O Trilhas Potiguares tem mais de 20 anos de existência, e na edição de 2017 atuou em 25 municípios, entre eles São Rafael. Uma equipe de doze pessoas, três coordenadores e nove trilheiros, estiveram na cidade com uma programação intensa, que misturou e integrou as diversas áreas de conhecimento em prol da população, sobretudo a da zona rural.

A descoberta do potencial turístico e gastronômico de São Rafael surpreendeu muitos dos trilheiros. Por exemplo, São Rafael possui uma tradição na apicultura, mas essa informação é muito difícil de encontrar se for pesquisar na internet ou em outros meios de comunicação. Produzem artesanato com a palha da Carnaúba, existe a produção caprina e ovina, e ainda um turismo radical não descoberto nem explorado.

Em suma, os sete dias do Trilhas é pouco para o tamanho das demandas que a população precisa, mas os trilheiros fizeram o possível para ajudar. “Pequenas coisas se tornam muito para eles”, disse o trilheiro Eduardo Paixão (graduando do curso Nutrição), e esse foi o sentimento que tomou todos os alunos que estavam no projeto nesta cidade. A possibilidade da transformação na vida do outro, por meio das pequenas coisas talvez seja o que mais chama atenção no projeto.

As marcas deixadas pelos passos dos trilheiros durarão e, assim como a muda que plantaram vai crescer, a saudade também irá. A exposição fotográfica, a muda de oiticica, as ações em todas as escolas e na comunidade são apenas algumas dessas marcas. E no momento do adeus o coração fica apertado e ansioso pela próxima edição.

Não dá para dizer “adeus” a São Rafael, mas sim um “até breve”.

Último dia de ações na cidade de São Rafael

Por Águida Cunha

O último dia de atividades (sexta-feira, 4) do Trilhas Potiguares no município de São Rafael teve uma programação completa que contou plantio da muda simbólica até apresentação cultural. O encerramento da edição deste ano do projeto de extensão da UFRN foi feito sob forte emoção dos alunos e coordenadores e de toda a comunidade envolvida. Ao todo foram realizadas mais de 30 ações, entre oficinas e palestras, durante os cinco dias de atuação na cidade.

O dia começou cedo para os trilheiros, que às 7h já estavam na comunidade rural do Desterro para o plantio da muda simbólica do Trilhas, este ano a muda foi da espécie Oiticica. Em seguida, parte do grupo seguiu viagem para as ações nas também comunidades rurais Serrote e Masagão. Lá eles ministraram uma oficina de Lixo e Reciclagem, além da palestra sobre Saúde Bucal com as crianças.

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Trilheiros plantando a muda simbólica do Trilhas Potiguares na comunidade rural do Desterro, em São Rafael – RN. Foto: Natália Noro.

O restante do grupo retornou a zona urbana para organizar as atividades planejadas para a tarde da sexta-feira. Entre elas estavam duas sessões de cinema na Câmara Municipal, uma mostra fotográfica na Biblioteca Municipal Professora Davina Soares, e no final do dia uma apresentação cultural na Praça João Januário de Farias, no centro da cidade.

Durante toda a tarde, cerca de 100 crianças e adolescentes se entretiveram com os filmes A Dama e o Vagabundo (Walt Disney, 1955), exibido às 14h, e A Menina que Roubava Livros (20th Century Fox, 2013), exibido às 16h. Para uma cidade que não possui salas de cinema ativas esse momento foi único. Em seguida, houve a abertura das exposições de fotos e brinquedos recicláveis na Biblioteca Municipal. A mostra fotográfica Trilhando São Rafael foi produzida pelas alunas de Comunicação Social Natália Noro e Águida Cunha, e contou com doze fotos feitas pelos alunos da Oficina de Fotografia e oito feitas pelas estudantes de jornalismo citadas acima. Já a exposição dos brinquedos de material reciclável foi fruto das Oficinas de Lixo e Reciclagem ministrada pela aluna do curso de Enfermagem Franciele Lopes.

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Sessão de cinema na Câmara Municipal de São Rafael. Foto: Andreza Santos.

Para encerrar o dia, às 20h30, deu-se início a apresentação cultural; o evento foi organizado como resultado das turmas das Oficinas de Dança, ministradas pelo aluno do curso de Dança Kamal. Na ocasião, o grupo de capoeira do Mestre Giovane também se apresentou abrindo o espetáculo. Mais de 20 jovens se apresentaram nesta noite, e tiveram como público a comunidade de São Rafael, além do prefeito da cidade, Reno, e sua esposa e também secretária municipal de Trabalho, Habitação e Assistência Social, Érica Naiany Figueiredo. Estavam entre o público também a secretária municipal de educação, Tânia Souza, e o secretário de Tributação e Finanças, Luiz Henrique Marinho.

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Turma da Oficina de Dança composta por alunos da Escola Municipal Francisco de Assis de Souza. Foto: Isa Teixeira.

A festa se encerrou com uma última aula de dança coletiva com alunos do professor Kamal e com a participação dos trilheiros. Ao som de Uptown Funk, de Mark Ronson com colaboração de Bruno Mars, a apresentação cultural foi finalizada.

Comunidade da zona urbana e rural de São Rafael recebem atividades do Trilhas

por águida cunha

A correria do dia a dia do Trilhas Potiguares não abalou a disposição dos trilheiros que estavam em São Rafael. Entre os dias 1° e 3 de agosto, a equipe, que já estava realizando ações desde a segunda-feira,  atuou em diversas atividades junto à comunidade local. Alguns deles são as oficinas de fotografia e de gestão de redes sociais, o hiperdia com a população idosa de São Rafael, além de palestras sobre Saúde Bucal com as crianças da zona rural e um delicioso momento com as merendeiras das escolas da cidade.

No dia 1° de agosto (terça-feira) as atividades se concentraram na cidade de São Rafael. Duas oficinas se iniciaram neste dia, a de fotografia e a de criação de site. Com o intuito de promover a cultura e o potencial turístico da cidade, as duas oficinas aconteceram na Biblioteca Municipal Professora Davina Soares e no Telecentro. Já na quarta-feira (2), para a população idosa houve um hiperdia e uma palestra sobre medicamentos psicotrópicos. Na Câmara Municipal ocorreu a palestra sobre Abordagem e Humanização nos serviços de Saúde, ministrada pela aluna do curso de Enfermagem Débora Silva. E no período da noite a equipe do Trilhas realizou uma palestra sobre Primeiros Socorros e Traumatismo Dentário, ministrada pelas alunas de Enfermagem e Odontologia Débora Silva e Hallide Santos, respectivamente. As duas palestras eram destinadas aos agentes de saúde da cidade e objetivavam fazer uma ponte entre os conhecimentos acadêmicos e a população.

Turma da oficina de Fotografia em sua atividade prática. Foto: Águida Cunha

As ações aconteceram também na zona rural do município, nas comunidades de Caraú, Coroa Grande, na quinta-feira (3). A palestra sobre Saúde Bucal infantil e a aplicação de flúor atendeu cerca de 25 crianças nas duas escolas das comunidades. E na área urbana a programação na cidade continuou com a Oficina de Gestão de Redes Sociais e com o encerramento da Oficina de Fotografia. A atividade destinada aos idosos foi uma palestra sobre Alimentação Saudável e Exercícios Físicos para idosos, uma ação integrada entre os alunos de Nutrição Eduardo Paixão e Isa Teixeira, e o aluno de curso de Dança Kamal. Para finalizar o dia, houve um plantio de mudas no canteiro central de São Rafael e mais duas palestras, uma sobre Sustentabilidade na alimentação Escolar com os alunos do curso de Nutrição citados acima, e outra palestra sobre Sexualidade, DST e Gravidez com a trilheira Débora Silva.

Aplicação de flúor em criança da zona rural de São Rafael. Foto: Águida Cunha.

A experiência numa fábrica de queijos

Por Águida Cunha
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Momento da produção do queijo. Foto: Natália Noro. 

O que você definiria como um bom queijo? Uma das curiosidades da cidade de São Rafael é a presença de queijeiras. Ontem acompanhamos o processo de produção dos queijos na Queijeira São Geraldo; e o que eu posso dizer deste momento? Não sei se consigo encontrar as palavras para descrever com fidelidade como foi a experiência, mas eu vou tentar, leitor, prometo.

Nunca pensei que acompanhar a produção de queijo seria algo que poderia ensinar tanto sobre acolhimento e sobre a boa vontade dos outros. O dono da queijeira, Davi, que trabalha com a produção de queijo há mais de 20 anos – herança de seu pai, nos acolheu na sua queijeira, nos explicou o porquê de algumas técnicas e como diferenciar um queijo boa qualidade de um de baixa qualidade. Passamos cerca de uma hora lá e quando chegamos ele estava mexendo o tacho com o leite que iria dar “vida” ao queijo. O cheiro do local era uma coisa impressionante, sabe aquele cheirinho de manteiga da terra? Era parecido, mas muito melhor.

Enquanto conversávamos, o dono da queijeira ia explicando os seus métodos para fazer um queijo de boa qualidade. Um bom leite, a não adição de farinha de trigo (algumas queijeiras adicionam farinha de trigo na produção do queijo manteiga para render mais), ao mesmo tempo que falava da sua produção e ia mexendo o tacho, sem nenhum receio ou preocupação de estarmos ali assistindo o processo. Na ocasião, nos falou algo curioso “quer saber como o queijo é de boa qualidade sem precisar comer? Coloca iodo nele, se ficar preto ou escuro é ruim, se não acontecer nada, pode comer que é bom”.

Outra curiosidade é o motivo o qual alguns queijos coalho derretem e outros não.  Davi falou também sobre o queijo de coalho, quando ele não é bom derrete na hora de assar, isso acontece porque ele só foi cozinhado e não prensado na hora da fabricação. “Quando só cozinha o queijo coalho ele rende mais, por isso algumas queijeiras dispensam essa etapa do processo pra ganhar mais. É preguiça”, comenta. Voltando ao queijo manteiga, quando o queijeiro chegou a etapa final do processo, não se importou em a gente provar o queijo quentinho, pastoso, feito na hora. Pelo contrário, ainda disse “é bom com açúcar, vou pegar pra vocês”, e trouxe um prato com um pouco de açúcar para a gente provar. Sim, é muito bom; se eu pudesse dar um pouquinho a vocês, eu daria.

Ainda teve a “raspa do tacho”, prática bem comum nesses lugares. Após finalizar a fabricação do queijo e armazenar as quantidades nos depósitos de plástico, o fundo do tacho fica repleto de uma superfície mais dura que “queimou” durante o cozimento. O queijeiro raspa o fundo do tacho para tirar essa camada queimada, e quem quiser comer pega um pouco desse queijo mais durinho. O sabor é muito bom, quem já provou sabe do que eu estou falando.

Como disse acima, não sabia como contar a história para vocês e como descreveria a experiência. A recepção de uma pessoa que não nos conhecia e que nos recebeu sem cerimônias, como ofereceu o que ele estava produzindo para seu sustento sem pedir nada em troca, traduz a boa vontade e o carinho o qual nos tratam aqui. Como não se importou com a nossa curiosidade e parecia feliz de nos receber ali. Ele e o seu parceiro de trabalho não esperavam nossa visita, mas já nos convidaram a voltar novamente. “Fiquem à vontade, sempre que quiserem passar por aqui”, disse. É certo que voltaremos, Davi.

Trilhas realiza oficinas em São Rafael

Por Águida Cunha

Os dias na cidade de São Rafael têm sido de muito aprendizado. Nós (trilheiros) estamos nos propondo a ensinar para eles o que aprendemos na universidade, mas eles nos ensinam muito mais sobre quão diferente são as pessoas e as suas vidas. Há dois dias estamos oferecendo oficinas na cidade dos mais variados temas, como Saúde Bucal, Lixo e Reciclagem, Dança, Criação de Site, Fotografia, entre outras.

Na segunda-feira, 31, começamos com uma atividade de Hiperdia na feira livre de São Rafael. Às sete horas da manhã estávamos lá para convidar as pessoas a participar da programação do Trilhas para a semana. Os trilheiros explicavam como prevenir ou tratar a hipertensão e a diabetes e, para isso, contaram com a ajuda de agentes de saúde da cidade na verificação da pressão arterial e taxa glicêmica da população. Concomitante as atividades na feira, outra parte da equipe estava na Escola Municipal Francisco de Assis de Souza para dar palestras sobre Sexualidade, DST e Gravidez, e sobre Violência e Drogas. Além de uma oficina sobre Reciclagem e Lixo com as crianças do 1º e 2º anos na mesma escola.

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Trilheiro fala sobre como prevenir ou tratar hipertensão e diabetes. Foto: Águida Cunha.

A oficina que fez muito sucesso entre a garotada da Escola Francisco de Assis de Souza Higiene Bucal foi a de Dança. No começo da oficina, os adolescentes da turma de 8º e 9º anos estavam receosos e envergonhados em dançar na frente dos outros colegas de turma, mas logo a música os contagiou e eles libertaram os seus “gingados”. Já a oficina de Higiene Bucal fez a alegria das crianças do 6º ano, com o aconselhamento de como cuidar da saúde bucal e com a entrega de kits de higiene bucal.

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Turma da Oficina de Saúde Bucal, na Escola Municipal Francisco de Assis de Souza. Foto: Águida Cunha.

Na terça-feira, as atividades começaram na Escola Coronel Luiz de Barros que acolheu a turma do Trilhas para palestras e oficinas. Enquanto isso, as oficinas de dança continuaram na Escola Francisco de Assis de Souza. E, durante a tarde, na Biblioteca Municipal e no Telecentro da cidade ocorreram duas oficinas que se estenderão durante a semana, a primeira é a de Fotografia e a outra foi a de Criação de Site. Para encerrar as atividades do dia, os trilheiros ofereceram mais uma turma da oficina de Dança e mais uma palestra sobre Sexualidade, DST e Gravidez.

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Oficina de Sexualidade, DST e Gravidez com alunos do 8º e 9º anos da Escola Municipal Francisco de Assis. Foto: Águida Cunha.

São Rafael intocada

Por Águida Cunha

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Ruínas da antiga igreja de São Rafael. Foto: Águida Cunha

Você já visitou as ruínas de uma cidade? Hoje, eu tive o privilégio de conhecer um lugar desses. No nosso passeio para conhecer a Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, eu e todo o grupo que está comigo participando do Trilhas pudemos ver a antiga cidade de São Rafael. Não posso dizer que foi algo muito animador e que me deixou muito feliz. Não foi bem assim. Todos aqueles escombros, que suportaram em pé a força das águas e do homem, me deixaram um pouco tocada por quão cruel o “progresso” pode ser. Afinal, eles apagaram a identidade e o pertencimento de um povo. Pois, deixar a sua casa, o seu lugar, porque resolveram que iam criar uma barragem ali não deve ser uma notícia excelente para ninguém.

A barragem é a maior do estado do Rio Grande do Norte, e devido à seca que assola o Nordeste há alguns anos, a água baixou de nível e revelou as antigas formas da cidade. Basta um passeio com alguns habitantes que moravam lá para perceber o quanto eles se lembram onde ficavam as casas, o mercado, o hotel, a delegacia, o posto de saúde, enfim, se lembram exatamente onde ficavam as coisas. A memória de um povo permanece viva, apesar de o seu lugar ter sido modificado há décadas.

Outro passeio que fizemos foi visitar a casa de um Barão e uma Baronesa, senhores de escravos, que viviam na região. Pouco a pouco, o tempo foi desgastando a estrutura da casa, e a falta de restauração pode colocar toda aquela memória a perder. Mas a vista é linda, o lugar é lindo. E o potencial turístico é pouco explorado. Paisagens e cores belíssimas. Chão pedregoso e árvores verdes. A Lágea Formosa que mostra suas curvas no horizonte. As serras. É realmente uma cidade bonita. Gostaria que mais pessoas pudessem ver o que eu vi.

Não sou muito de escrever sobre meus sentimentos, mas o que eu vi foi bonito e ao mesmo tempo triste. Porém devemos transformar a tristeza em alegria, afinal a cidade de São Rafael merece isso. Toda essa história me impulsiona a tentar fazer mais por essa cidade que já teve seus momentos tristes, agora é hora de fazer mais. Então, estamos aqui prontos para oferecer o nosso melhor a São Rafael.